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sexta-feira, 7 de março de 2014

Sim, eu resolvi falar sobre machismo.

Não é de hoje que uma série de questões sociais me chama a atenção, principalmente pelo fato de eu ser negro, pobre, morador da periferia e, obviamente, pertencente a uma massa de excluídos. Constantemente sou alvo de racismo, velado na maioria das vezes, mas não menos nocivo. Por vezes me deparo com situações em que, apesar dos meus esforços, me sinto incapaz de ver qualquer traço de racionalidade e empatia no modo como nós nos tratamos no convívio diário.
Certamente esses e outros tantos problemas são alvos de reflexões constates de pessoas que, assim como eu, se sentem incomodadas (por falta de palavra melhor) com o modelo de sociedade em que estamos inseridos, mais especificamente aqui no Brasil.
Hoje, no caminho de volta pra casa, li um texto muito interessante a respeito das homenagens equivocadas que dedicamos às mulheres uma vez por ano e fiquei remoendo os conceitos expostos por um bom tempo.
Embora muitos de nós ignore ou pareça, incrivelmente, desconhecer o fato de que as mulheres são oprimidas de inúmeras formas, há quem dedique a vida para combater essa mentalidade tacanha e parece que, finalmente, eu começo a compreender a importância dessa luta.
Não sou eu quem vai ousar dar lições sobre feminismo aqui, até porque não sou nenhuma autoridade no assunto, muito pelo contrário.Mas de uns tempos pra cá, tenho observado o modo como nós homens nos comportamos e nos dirigimos às mulheres e em boa parte do tempo senti um misto de vergonha e nojo, de verdade.
Por coincidência ou não, na véspera do Dia Mundial da Mulher, pouco tempo depois de ler o texto sitado acima, presenciei uma cena no mínimo desagradável, revoltante: um grupo de seis caras conversava animadamente próximo a escada rolante de um das plataformas do metro, quando uma menina que não aparentava ter mais de dezessete anos se aproximou para aguardar o próximo embarque. Um dos caras chamou a atenção dos demais para a presença da garota e, ao mesmo tempo, todos eles começaram tecer comentários sobre ela que prefiro não transcrever, mas você(s) pode(m) imaginar.
Percebendo a abordagem nada sutil, a menina procurou se afastar e essa foi a deixa para os caras falarem mais alto em meio à gargalhadas. O metrô chegou, todos embarcaram e a poucos metros de mim estava o grupo de homens de meia idade que insistiam nas "cantadas". Num dado momento, quando a garota deu a impressão que ia descer, o mais exaltado do grupo segurou de leve o cabelo da moça e disse alguma coisa que não pude distinguir por causa do barulho. Ela desceu apressadamente sem levantar os olhos do chão, visivelmente envergonhada enquanto o troglodita voltava triunfante para perto dos seus amigos imbecis.
Isso tudo aconteceu sob o olhar condescendente de todos ali presentes, alguns pareciam até se divertir com a cena, e ninguém fez nada pra impedir que aquilo acontecesse, inclusive eu. Não demorou muito, surgiram comentários a respeito da roupa que a moça vestia, como se isso fosse uma justificativa válida pra tanta boçalidade.
Diante desses acontecimentos, eu me senti mal não só por esse caso em específico, mas por todas as vezes que testemunhei cenas parecidas e ignorei, por não ter certeza se alguma vez já fiz alguém se sentir humilhada como provavelmente aquela menina se sentiu.Quem me conhece sabe bem que não sou esse tipo de cara, porém os sentimento de culpa e impotência diante da situação foram inevitáveis.
É desesperador o fato de que todas as mulheres são obrigadas a lidar com a violência aplicada de diversas maneiras diariamente, de que muitas sejam agredidas e mortas por quem antes parecia ser confiável, que muitas delas tenham que sofrer caladas com a humilhação, de que outras sejam descriminadas simplesmente por levarem um estilo de vida que faz sentido para elas e não para os outros, de que tenham que pensar duas vezes entes de sair de casa com uma determinada roupa, que tenham que repensar um trajeto mais seguro para caminhar sozinha já que há quem se ache no direito de fazer o que bem entende só porque nasceu com um pinto entre as pernas. Em outras palavras, é triste saber que todas mulheres tem que se adequar a um sistema que sempre as oprimiu e as desqualificou.
Já tive o desprazer de testemunhar minha mãe sendo alvo de piadinhas infames por ser a única mulher num ambiente de trabalho onde predominavam os homens, onde lhe era pago um salário menor que o dos caras que não eram capazes de executar tão bem as mesmas tarefas que ela. E a testemunhei passar por tudo isso sem baixar a cabeça, sem mostrar qualquer sinal de fraqueza. Agora imagine ver com os próprios olhos a pessoa que você mais ama nesse mundo passar por isso calada. Imaginou? Agora tente imaginar como ELA se sentiu. Tentei inúmeras vezes e só pude concluir que provavelmente eu não teria tanta força assim.
Nunca vou poder dizer com propriedade como é ser mulher e passar por essas e outras adversidades, mas graças ao bom senso e a capacidade que adquiri de me colocar no lugar do outro (ou "das outras" pra caber melhor no contexto), senti a necessidade de questionar conceitos ultrapassados e derrubar uma série de privilégios que me foram concedidos por ter nascido homem. Vejo agora, mais do que nunca, a importância de desconstruir o estereótipo de machista hipócrita que nos é imposto desde que o mundo é mundo, que também oprime em menor (bem menor) escala a nós homens e que, com toda a certeza do mundo, não me representa.


Essa é pra todas vocês de coração:

Boom Boom Kid - Es Duro Ser Una Chica En Cualquier Lugar

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